quarta-feira, 20 de maio de 2009

Lançamento do livro Cicatrizes- Relatos de violência sexual

Por: Mariana Gasparetti
Milena Nepomuceno

A jornalista Dalila Penteado lançou na noite do dia 19 de maio seu primeiro livro: Cicatrizes – Relatos de violência sexual.
A obra relata a dor e o sofrimento de vítimas da violência sexual, prática que vem crescendo a cada dia na nossa sociedade. O livro aborda fatos reais que transformaram a vida de muitas mulheres.
Todas as vítimas são apresentadas com pseudônimos para preservar suas identidades.
O livro-reportagem inicialmente era um projeto de conclusão de curso, que com o apoio da Palavra & Prece Editora está sendo lançado.
Dalila é repórter da TVA - Canal de São Paulo e cursa pós graduação em Revista Segmentada na UniFiam Faam, onde se formará no final de 2009.
Durante a noite de lançamento na Livraria da Vila, a jornalista falou sobre seu projeto para o Jornaliste-se.



Jornaliste-se: Como foi a escolha do tema para o livro-reportagem?
Dalila Penteado:Na época que estava na faculdade precisava escolher uma problemática, assim, escolhi o estupro. O que foi complicado de trabalhar, porque ninguém quer falar sobre isso. Eu corri atrás e graças a Deus deu o fruto, o livro cicatrizes.

J: Como foi a pesquisa em busca de depoimentos?
DP: A pesquisa foi árdua, porque ninguém queria falar no assunto, uma vez que é um tabu muito grande. Quando se procura por essas pessoas, vai-se na busca por centros e ninguém fala, porque existe uma técnica, uma ética profissional. Com isso, os profissionais barram com o argumento de já terem trabalhado a questão psicológica e não aconselharem retomar o assunto. As pessoas que consegui entrevistar foram boca-a-boca, foi “pelo amor de Deus, me dá uma entrevista”. O Cicatrizes além de depoimentos das mulheres, traz profissionais da advocacia, sexóloga, psicologas, debatendo toda essa questão.

J: Como foi o processo de publicação?
DP: Passei por três editoras, em que apresentei a proposta. A primeira era uma editora de Jundiai, que publicam o livro e sem precisar pagar. Há uma aposta na idéia do autor e lançam o projeto quando aprovado. Mas, a partir do momento em que fui em busca por conta de minha chefe na Secretaria de Segurança Pública, e assim, me informaram que já apostaram muito em projetos e que já tiveram muito gasto e prejuízo, e hoje não apostam mais. Assim, só se pagasse que seria lançado. E, depender de patrocínio é complicado.
Com isso, fui atrás de uma segunda opção, pois um policial militar me indicou uma outra editora. Fui informada que deveria reestruturar meu projeto e apresentar novamente. Assim, eu reformulei a idéia de baseando em como os policiais poderiam tratar dessas mulheres, a maneira como poderiam agir diante de uma mulher que passou por uma situação de estupro. Assim, a editora ficou 15 dias lendo o material, o que geralmente leva 6 meses, mas não viram viabilidade comercial e não aprovaram.
Então, meu padrinho de crisma, o Monsenhor Aguinaldo, indicou a editora Palavra & Prece, assim, apresentei toda minha idéia, marquei entrevista pessoalmente, a editora aprovou meu projeto e hoje estou lançando.

J: Como é o processo para se fazer um livro reportagem?
DP:Eu tive orientação do professor Claudio Tognolli e assim pude aprender a caminhar sozinha. O professor me deu algumas orientações e a partir disso fui atrás de entrevistas, porque é através de pesquisa de campo que conseguimos apanhar todo o conteúdo. Têm-se técnicas de jornalismo literário, de jornalismo investigativo.

J: O que pretende alcançar com o livro?
DP: É importante estimular o debate, as pessoas precisam falar cada vez mais sobre o assunto porque do contrário cria-se um tabu fixo. Então, quando não se fala sobre isso, faz-se muito pouco sobre a problemática. Então é preciso estimular, trazer o assunto a tona na mídia e incentivar a denuncia.

J: O que você aprendeu na concepção do seu livro?
DP:Na verdade sempre gostei muito de escrever e tinha um sonho de consumo que era publicar um livro, e com isso aprendi que tem-se que acreditar naquilo que você faz, que tudo é possível e não pode desistir. Deve-se acreditar no próprio potencial, investir, ter fé que tudo é possível.




Para conferir a entrevista na íntegra acesse o site: http://www.youtube.com/watch?v=xoCCFYP12Qs




4 comentários:

  1. Parabéns garotas jornalistas!
    Divulgando os novos profissionais e assim divulgando a publicação sobre temas tabus, abrindo campo para discussão e dando voz ao que muitas vezes está velado pela mídia.
    Bom trabalho e ótimo futuro.
    Michele Roza

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  2. Oi Michele, muito obrigada pelo comentário!
    Adorariamos a sugestao de pautas também, e volte sempre!

    beijos

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  3. O livro é muito bom, ótima dica do jornaliste-se.
    ( hehe, não estou puxando o saco só porque tbm escrevo no blog).

    As histórias impressionam e revoltam. O que é mais revoltante para mim não é a atitude de determinados monstros, que fazem essas brutalidade, mas a reação que determinados cidadãos , ditos "normais", possuem.

    Me refiro à pessoas que que cogitam não prestar ajuda a uma vítima, por considerar ser uma briga entre casais, à policiais que banalizaram o estupro e chegam a lançar livros em que levantam a tese de que a mulher pode ser tão responsável pelo ato sexual violento quanto o próprio estuprador, por usarem roupas "indescentes" (acreditem, isso existe!)...efim..o que mais me choca são essas atitudes serem consideradas normais.

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  4. Milena Nepomuceno, Gabriela Rangel e internautas de plantão...

    O “Cicatrizes – Relatos de Violência Sexual”, traz também esta idéia instigadora de revolta. Com ela, acredita-se que as pessoas acordem do mundo de faz de contas, deparem-se com a realidade e discutam sobre a problemática. Do contrário, o silêncio continuará perpetuando os casos de atentado violento ao pudor, do estupro...


    Seguem dois trechos retirados do livro:

    "Em seguida, Caranguejeiro mandou Beija-flor sentar-se na frente dele, para que pudesse se manter vigiando-o. Girassol conta que seu martírio se iniciou naquele momento, porque esse homem a mordeu da cabeça aos pés e chegou a penetrar até os dez dedos em sua vagina, enquanto ela chorava de dor, mas não podia fazer nenhum barulho. Além de retorcer-se de dor, ela se agarrava aos pés do namorado, que tampouco tinha como reagir aos acontecimentos".



    "Biscuit relata que Pedra não dormia nem gozava, mas a machucava muito. Enfiou a ponta do canivete na sua nuca e no pescoço, e ela sangrava, sem contar as mordidas e “o cabo do canivete que ele enfiou na minha vagina”, e ameaçou: “Ainda te enfio do lado da lâmina e saio rasgando tudo aí de dentro”."


    Obrigada pela divulgação,

    Dalila Penteado (autora)
    livrocicatrizes@gmail.com

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